Tendências dos ETFs na América Latina: Popularidade em Ascenção
Praticamente 25 anos após terem sido lançados nos EUA, os fundos negociados em bolsas (ETFs) continuam conquistando popularidade pelo mundo todo tendo como atributos taxas baixas, alta liquidez e facilidade de uso, além de total transparência e verdadeira eficiência fiscal. Hoje, os produtos de ETF cobrem uma gama crescente de estratégias de investimento, desde ações e renda fixa até commodities, smart beta e imóveis, bem como segmentos emergentes com abordagens ativas e passivas.
Após terem conquistado popularidade nos EUA e posteriormente na Europa, os ETFs têm ganhado espaço em regiões emergentes, como a América Latina. Um catalisador essencial é o Brasil, cujo crescimento econômico estável e conjunto de reformas regulatórias ajudaram a estimular o interesse dos investidores. Com o capital voltando a ser investido no Brasil e em regiões vizinhas, um número cada vez maior de investidores estrangeiros está buscando ETFs com alta liquidez e baixo custo como uma forma de aumentar as alocações locais. Ao mesmo tempo, a segurança relativa e a flexibilidade dos ETFs têm atraído participantes dentro da própria América Latina, em especial aqueles que procuram maiores exposições internacionais.
De acordo com a Greenwich Associates, as alocações de ETF quase duplicaram em toda a região em 2017, com estratégias como renda fixa, imóveis e commodities como os produtos negociados em Bolsa mais buscados. Olhando para o futuro, planos de pensão nacionais e outros gestores de ativos no Brasil devem aumentar a adoção de ETFs como uma forma de ganhar acesso a mercados estratégicos como os dos EUA, muitas vezes inacessíveis devido a restrições transfronteiriças.
ETFs no caminho certo
Desde o início da década, os ETFs globais obtiveram uma taxa de crescimento anualizado orgânica de 19%, mais do que quatro vezes o padrão dos fundos mútuos abertos. Daqui para frente, uma série de tendências estruturais deve impulsionar a adoção dos ETFs. A primeira delas é o fato de muitos gestores terem começado a mudar seu foco de seleção de títulos e estarem buscando mais alocação de ativos/criação de portfólio de forma a conquistar valor máximo. Em seguida, as alterações no âmbito do mercado de renda fixa ajudaram ainda mais no crescimento dos ETFs. Com os bancos deixando de lado os títulos de dívida por não considerá-los mais um uso de capital eficiente ao realizar compras e vendas, a liquidez do mercado de títulos de dívida foi afetada, o que resultou em spreads de lance/oferta mais amplos, acima dos 0.5% – 0.6% ao ano no setor de alto rendimento, para citar um exemplo. Compare com o gráfico iShares iBoxx $ High Yield Corporate Bond ETF, cuja média marca atualmente cerca de 0.01%. Não é surpresa que os gestores estejam buscando esses produtos para economizar nos custos.
Os investidores estão usando cada vez mais ETFs como instrumentos financeiros, muitas vezes substituindo derivativos como futuros e swaps, sobretudo em estratégias de mercados emergentes e debêntures. As mudanças de longo prazo na estrutura do mercado estão acelerando essa tendência. Com os custos dos balanços dos bancos aumentando diante de novas exigências de capital e liquidez, a negociação de derivativos com hedging ficou mais cara (em até 0.3% – 0.4% em alguns casos). Por outro lado, um substituto equivalente a derivativo de ETF pode ser adquirido por uma fração desse custo (0.04% em média). Embora ainda haja uma preferência pelos derivativos por conta de suas posições alavancadas ou vendidas, os ETFs tornaram-se a meca para gestores de posições compradas.
Além disso, a prevalência da demanda das consultorias tarifadas sobre as comissionadas, impulsionada em parte pela busca por maior transparência nos produtos de investimento, é um bom sinal para os ETFs, sobretudo porque os gestores procuram estratégias de baixo custo que possam comportar o uso de taxas de corretagem. Atualmente, apenas cerca de 3 a 4% dos fundos continuam transacionais, principalmente de forma a alcançar porções do mercado global que seriam de outra forma inacessíveis.
Aumento na América Latina
Os investidores latino-americanos estão buscando nos ETFs uma forma de alcançar diversidade em classes de ativos em diferentes localidades com um instrumento relativamente seguro e líquido. Os fundos de pensão regionais estão entre os primeiros a buscar oportunidades de investimento no exterior: os anos 2000 estavam começando e qualidades como “baixo custo” e “nenhum risco de contraparte” ainda não eram termos comuns do setor na era pós-crise. Depois de 2008, os investidores que tiveram perdas significativas resultantes de exposições obscuras de crédito de repente estavam clamando por liquidez, diversificação em classes de ativos e, acima de tudo, transparência total: atributos intrínsecos à estrutura do ETF.
Em última análise, os gestores da América Latina passaram a ver os ETFs como produtos versáteis e favoráveis aos investidores que desejavam acessar índices globais e que, logo, proporcionam aos clientes esse elemento tão importante que é a diversificação. O sucesso inicial dessa entrada de ETFs acabaram estimulando outros gestores de ativos locais e de empresas de seguro a entrarem com força total nos ETFs.
Hoje, as alocações institucionais de ETFs continuam crescendo em toda a região, atingindo 13% de todos os ativos investidos em 2017. De acordo com a Greenwich Associates, esse aumento quase duplicou ano a ano. O México continua na frente, com ETFs representando em média cerca de 40% do volume de participação total do país (em comparação aos 25% dos EUA). Embora a utilização no Brasil esteja bem atrás, uma busca semelhante por diversificação está surgindo no país, fruto de uma mudança atual nas condições econômicas. Por conseguinte, analistas veem os ativos sob gestão no setor de ETFs (atualmente estimados em cerca de US$ 2.5 bi) crescendo de forma constante no Brasil no curto prazo.
Outro fator determinante foi a percepção lenta, porém constante, de que buscar alternativas em outras regiões passou a ser obrigação e não mais uma opção. Há menos de uma década, o percentual de alocações internacionais na região era de quase zero. Hoje, houve uma melhora nessa marca para cerca de 10%, muito menor do que poderia estar, mas, ainda assim, seguindo na direção certa.
Outro ponto a favor do investimento em ETFs é o tratamento tributário preferencial. Por exemplo, no México, os investidores locais que usam ETFs com exposições estrangeiras estão sujeitos a uma retenção na fonte de 10% em comparação a uma alíquota média de 30% ao negociar títulos estrangeiros individuais.
Partiu compras, Brasil?
O Brasil começou a oferecer ETFs em 2004 e atualmente conta com 15 produtos negociados em Bolsa, a maioria deles baseados em ações (o ETF de renda fixa estreou no país em setembro de 2018). Apesar de relativamente pequeno, o mercado alcançou cerca de US$ 50 milhões em volume diário, em parte graças à variedade de produtos desde revenda e empréstimos de ações até futuros e opções. Os investidores também podem usar ETFs como garantia de negociação. A maioria dos proprietários de ETFs são clientes institucionais e representam cerca de 62% das alocações negociadas em Bolsa, segundo a Bolsa de Valores, B3, com os investidores estrangeiros representando apenas 7% da atividade regional.
Como muitos investidores na região, os brasileiros sempre preferiram títulos nacionais, sobretudo os produtos de renda fixa que geram alto interesse. Com a turbulência dos últimos anos – incluindo uma queda contínua nos preços das commodities e a liquidação subsequente das ações – muitos investidores passaram a reconsiderar classes de ativos internacionais não só por conta dos seus incentivos fiscais.
Atualmente, regulamentações proíbem a distribuição de fundos estrangeiros no Brasil. Além disso, muitos bancos regionais e outras empresas financeiras não têm infraestrutura para investir diretamente em bolsas no exterior. Logo, ETFs brasileiros negociados em moeda local e que ainda oferecem exposição internacional continuam sendo a opção mais barata e simples para os investidores globais. Com isso, mais gestores regionais devem oferecer ETFs de forma a atender esse crescimento na demanda.
Passo a passo para investir em ETFs?
Ao considerar investir em ETFs, é crucial que os investidores busquem os fornecedores mais qualificados disponíveis e também levem em conta critérios como liquidez de fundo, ativos sob gestão, quantidade e tipo de ofertas, bem como anos de experiência no mercado. Quanto aos gestores, fornecer informações adequadas pode ajudá-los a garantir que os investidores escolham uma cesta de títulos que reflita seus objetivos de longo prazo. Além disso, a conscientização continua sendo fundamental para gestores de fundos ativos e passivos, não só em alocações estrangeiras, mas também em estratégias de renda fixa que tradicionalmente dominaram os portfólios brasileiros. Em prol desse esforço, custodiantes e administradores continuam trabalhando com os gestores para auxiliar clientes institucionais que buscam aumentar exposição de ETF.
No Brasil e em outros mercados regionais que se concentram quase que exclusivamente em oportunidades locais, a capacidade de obter acesso global por meio de ETFs é um avanço com potencial revolucionário. Considerando a volatilidade acentuada presente nos mercados regionais nos últimos anos, talvez não seja surpresa que os investidores estejam finalmente buscando diversificação em seus portfólios usando diferentes moedas, setores e classes de ativos. Muitos desses investidores estão descobrindo que os ETFs tendem a ser a forma mais eficiente de tornar isso realidade.